“Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co 5.10).
INTRODUÇÃO
Como sabemos, Deus é Criador e Senhor de todas as coisas, e dentro de sua economia providencial houve por bem colocar-nos no mundo como seus administradores ou mordomos. Podemos, então, compreender o largo espectro de responsabilidade do ser humano, diante de Deus, do cosmos, da sociedade humana.
Numa visão panorâmica, podemos falar de:
- Mordomia do tempo – O tempo como dom de Deus, para vivermos e fazermos tudo que Ele tem para nós.
- Mordomia cósmica e ecológica, em que o homem é responsável pela administração da Criação, e boa manutenção de seu ecossistema, seu meio ambiente;
- Mordomia da vida, em que o homem é responsável por manter e enriquecer o dom da vida, jamais a atentar contra ela;
- Mordomia do corpo ou somática e da saúde física, em que o homem é responsável diante de Deus pelo que fizer de seu corpo, de sua integridade física e sua saúde;
- Mordomia do sexo, em que o ser humano é responsável pela maneira como usa esse dom e bem que Deus lhe concedeu, e de acordo com os propósitos Dele;
- Mordomia da influência, em que o homem é responsável diante de Deus pelas sementes que espalha mediante sua influência, no relacionamento humano;
- Mordomia da inteligência, do conhecimento e da cultura, em que o homem é responsável pelo desenvolvimento de suas potencialidades intelectuais e construção e transmissão de seu conhecimento;
- Mordomia da ciência e da tecnologia, em que o homem é responsável pelo conhecimento que adquire, pela ciência que investiga e pela tecnologia que produz, de forma a que ciência e tecnologia promovam o bem comum e a dignidade humana, jamais a destruição de valores que se localizam na raiz mesma da existência humana. É bastante lembrar a mídia eletrônica, a cibernética, a informática, a engenharia genética, e outras áreas igualmente importantes, no contexto científico e tecnológico;
- Mordomia política e social, em que o homem é responsável pela boa organização social e definição de princípios norteadores da vida na polis, e manutenção dos direitos na sociedade;
- Mordomia dos bens e valores econômicos, em que o homem é responsável pela maneira como produz e utiliza os valores materiais, se numa dimensão apenas horizontal e temporal, ou consciente de sua responsabilidade diante de Deus.
QUÊ A BÍBLIA TEM A DIZER-NOS SOBRE ESSAS ÁREAS?
1. Sobre a mordomia do tempo – Examinemos passagens como Rm 13.11,12; Gl 6.9,10; Ef 5.15-17. E compreendamos:
1) que o tempo constitui um presente de Deus: o tempo duração (chronos), a todos igualmente dado, e o tempo oportuno (o kairos), a porta aberta, o instante luminoso. Teólogos alemães falam do Zeitraum (a duração) e o Zeitpunkt (os momentos oportunos);
2) que, à luz da parábola dos talentos, Deus concede bastante tempo (duração), capacidade de atuar e oportunidade de desenvolver o que confia a seus servos. Na família, no trabalho, oportunidades de estudar, de fazer um curso no Exterior, por exemplo.;
3) que é mister viver bem no tempo, e aproveitar cada oportunidade que o Senhor nos concede. Atentemos para a importância das pequenas frações ou nesgas do tempo;
4) que é importante também administrar bem o tempo, distribuindo nele as tarefas, ações e providências impostas por nossa condição humana, compromissos éticos e responsabilidade social
5) As lições que o poema de Michel Quoist encerra.
2. Sobre a mordomia cósmica e ecológica – Recordemos Sl 24; Gn 2.15; At 17.26, e respondamos:
(1) A quem pertencem o Universo, a Terra, e todas as coisas do mundo e as criaturas que nele habitam?
(2) Como administradores de Deus e “gerentes” da Criação, quê nos incumbe fazer, à luz de Gn 2.15, por exemplo?
(3) Quais as implicações de Gn 2.15 nas medidas para preservação do meio ambiente, e até onde vai nossa responsabilidade em relação ao meio ambiente, a começar de nossa casa: lixo, plásticos, óleo de cozinha, etc.?
3. Sobre a mordomia da vida – Examinemos Gn 1.26,27; Ex 20.13. E respondamos:
(1) Por quê a vida humana é valiosa?
(2) Quem tem direito sobre a vida humana?
(3) Podemos dispor livremente de nossa vida ou da vida de qualquer pessoa?
(4) À luz de Ex 20.13, é razoável o abortamento? Até onde são válidas as experiências genéticas?
(5) Qual é a nossa responsabilidade diante disso?
4. Sobre a mordomia do corpo e da saúde – Examinemos Gn 1.26; Sl 139.1-24; 1Co 6.20; 7.23; Ap 22.2. E respondamos:
(1) Por quê nosso corpo é importante, dentro da doutrina cristã?
(2) Quê cuidados nosso corpo merece?
(3) Por quê devemos cuidar de nosso corpo?
(4) Como devemos promover nossa saúde física?
5. Sobre a mordomia do sexo – Examine Ex 20.14; 1Co 6.15-20; Rm 1.18-27; Hb 13.4. E respondamos:
(1) Por quê Deus nos fez como seres sexuados?
(2) Qual a importância do sexo e como devemos vivê-lo, segundo a vontade de Deus?
(3) Quê nos ensina 1Co 6.15-20, a propósito da prática sexual?
(4) À luz de Rm 1.18-27, tem respaldo bíblico a prática do homossexualismo?
(5) Quê é o casamento e que significa “leito sem mácula”, em Hb 13.4?
6. Sobre mordomia da influência – Recordemos Rm 14.7; Mt 5.14,16; Hb 11.4; Mt 12.36,37.
Sabendo que a influência que exercemos sobre as pessoas é algo durável e inevitável, e assemelha-se a ondas que constantemente emitimos, a sementes que constantemente plantamos, para promover o bem ou o mal, respondamos:
(1) Quê quer dizer Paulo quando afirma que “ninguém vive para si”?
(2) Que Jesus significa como a declaração de que “somos luz do mundo”? Como e para que deve brilhar nossa luz?
(3) Por quê Abel “depois de morto ainda fala”?
(4) Como nossas palavras constituem veículo de tremenda influência, como devemos falar, e o que Deus vai pedir de nosso falar? (Ver Mt 12.36,37).
7. Sobre a mordomia da inteligência e do conhecimento – Examinemos Fp 4.8; Pv 20.27; Sl 119.11; Mt 12.35, e busquemos respostas para as seguintes perguntas:
(1) Quê devemos fazer da mente e inteligência que Deus nos concedeu?
(2) Quê é a inteligência humana, à luz de Pv 20.27?
(3) De quê devemos encher nossa mente? E por quê não devemos mantê-la vazia?
(4) Quê havemos de fazer do conhecimento que acumulamos ao longo da vida e dos estudos? Teremos de dar conta dele ao Senhor?
8. Sobre mordomia da ciência e da tecnologia – Atentemos para Ec 9.10; 2Rs 24.14,16; Cl 3.23; Tg 4.17; 2Co 5.10. E respondamos:
(1) Ao conceder ao ser humano inteligência e talentos, como Deus quer que o homem os empregue?
(2) Como deve ser feito o nosso trabalho, seja no campo da ciência ou da tecnologia?
(3) Qual é a responsabilidade do cientista e do tecnólogo, à luz de Tg 4,17 e 2Co 5.10? Que significa fazer o bem?
9. Sobre mordomia política e social – Lembremos Rm 13.1-7; Mt 22.17-22; 1Tm 2.2; Jr 3.15; Gl 6.9,10; Mt 25.31-46. E respondamos:
(1) Em quê consiste a mordomia política e social? Veja formulação do problema na introdução.
(2) Qual é a fonte de todo poder, e por que devemos acatar a autoridade civil?
(3) Por quê devemos orar pelos governantes e pagar impostos?
(4) Em regimes democráticos como é o nosso, em que consiste “dar a César o que é de César”? Pode (ou deve) o crente entrar na vida política? Em que circunstância?
(5) Deus quer prover governantes dignos para nosso país, à luz de Jr 3.15? (Lembre-se de que “pastores”, no texto, são governantes).
(6) “Fazer o bem a todos” implica também em que nos envolvamos na obra social, como expressão de nossa fé e nossa missão? (Confira Mt 25.31-46).
(7) Quê exemplos nos oferecem, no campo da mordomia política e social, José, Daniel e Neemias, no AT?
10. Mordomia dos bens e dos valores econômicos – Essa área constituirá objeto do estudo derradeiro desta série com LIBER. Aguardem.
CONCLUSÃO
Que o Senhor nos abençoe na compreensão e prática cotidiana da doutrina bíblica da mordomia, em todas as áreas de nossa vida.