Certa vez, George Lillo afirmou que “a gratidão é a memória do coração”. Creio que foi o desejo de Deus, quando inspirou a realização de várias festividades no meio do Seu povo, perpetuar a memória dos grandes acontecimentos. Assim, o dia de descanso serve para comemorar a criação do mundo; a páscoa é uma festa comemorativa da saída do Egito. Pentecostes foi a festa estabelecida em memória da lei de Deus proclamada no Monte Sinai. O Senhor ordenou que todos deveriam vir, pelo menos três vezes por ano, ao Templo com presentes em suas mãos. Em outras palavras, Deus queria ver Seu povo despertado ao desenvolvimento do espírito de gratidão.
A gratidão consiste na devida manifestação de agradecimento a Deus por todos os favores e bênçãos, temporais e eternos, para conosco; implica a justa apreciação de todas as dádivas de Deus e do quanto somos indignos de merecê-las. Implica recordá-las, reconhecê-las publicamente, correspondendo-O com obediência e rendendo-Lhe cultos em ações de graças.
O espírito adverso à gratidão é aquele que muitos, que desconhecem os favores e as bênçãos “recebidas das divinas mãos”, evidenciam: o da ingratidão. Goethe dizia que a ingratidão era uma forma de fraqueza e que jamais conhecera um homem de valor que fosse ingrato. Shakespeare escreveu: “mais cortante que o dente da serpente é ter um filho ingrato”. Jesus lamenta a ingratidão de leprosos que acabavam de ser curados (Lc 17.17,18). A ingratidão é uma prova de degradação, ou seja, aquela disposição do coração humano para distanciar-se de Deus.
Por que devemos ter um espírito de gratidão? Porque a Palavra de Deus assim recomenda (1 Tm 2. 1-3). Porque é uma forma de adorar e louvar a Deus: “dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Ef 5.20). Porque o louvor a Deus é característica dos filhos de Deus: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus.” (Fl 4.6). Porque há em nosso coração a certeza da salvação e a esperança dos céus, razões que nos levam, como igreja, a sermos luz neste mundo em trevas, a não nos calarmos diante da perdição humana.
Nosso Deus não somente escolheu várias festividades para que seus filhos perpetuassem, na memória, os grandes acontecimentos, fruto de Seu poder, como também orientou sobre com que espírito deveria Seu povo vir ao Templo: em ações de graças, com presentes em suas mãos. Apresentemo-nos diante do Senhor, neste dia, em Seu santo Templo, com ações de graças e “em seus átrios com hinos de louvor”, porque “grande é o Senhor e digno de ser louvado; glória e majestade estão diante dele, força e formosura no seu santuário”.
“Gratidão e felicidade são coisas que andam de mãos dadas.” (Norah J. Pigman).