Esquecimento e Tentações
Pelo simples fato de não conseguirmos cuidar de tudo à nossa volta, vivemos sob permanente ameaça de revelações inevitáveis: A cobrança de algo de que nos esquecemos completamente e que nos deixa embaraçados. As reclamações por não termos telefonado conforme o combinado. A carta que, por haver chegado atrasada, trouxe prejuízos a um amigo que a esperava com expectativa. Até um cumprimento de rosto fechado denuncia-nos algum esquecimento do que somos culpados, mesmo sem o saber. São muitas as situações concretas, no dia a dia, em que nos vemos apanhados duramente pela consciência de uma falta que colocou pessoas em dificuldades, sem que o percebêssemos. Sentimo-nos culpados pelas nossas distrações.
De fato, é assim a experiência difícil de viver. Somos constantemente suscetíveis a culpas imprevisíveis e passageiras. Surge o medo de sermos mente, o que é mais incomodo. A persistência da culpa pode revelar no ser humano quadro de complexos, cujas raízes estão, na verdade, fincadas na infância. Fantasias secretas, tentações, pensamentos vaidosos, maldosos, invejosos, dão a entender que há uma dualidade entre nosso ser escondido e nosso ser aparente. Martinho Lutero fez uma afirmação interessante: “Não podemos impedir que as aves voem sobre nossas cabeças, mas podemos impedir que aí façam seu ninho”
A Teologia faz distinção entre a tentação e pecado: Tentação não é pecado. Uma evidência disto está na própria tentação de Jesus, narrada nos evangelhos de Mateus e Lucas. Pensamentos podem vir, sem que possamos fazer alguma coisa. Em cultiva-los, acolhe-los, está o mal. A angústia de muitos reside nesse fato, por não terem percebido que entre aquilo que se maquina na mente e a sua consumação, pode haver a distância de apenas um passo.
Em qualquer dos casos, tanto nas falhas por esquecimento como nas tentações, existe uma espécie de culpa latente. Pela própria condição humana, temos sede de uma resposta divina. A culpa que os homens são incapazes de erradicar, a despeito de inúteis sacrifícios, penitências, remorsos e vãos arrependimentos, só Deus mesmo apaga. A obliteração de nossas culpas vem do encontro à intuição que existe em todos o homem, que o preço tem que ser pago pelo faltoso. “Olho por olho, dente por dente”.
O preço mais caro que Deus poderia pagar deu-se com a morte na cruz de seu Filho Jesus cristo. O grande privilégio que temos como cristãos é a certeza de que somos alcançados com a graça de Deus desde a consciência de culpa e erradicação dela à restauração completa interior.