Estou abordando neste editorial o mais famoso convite de Jesus dirigido às pessoas, citado em Mateus 11.28-30. Nele, duas vezes o Mestre fala de “jugo”. Aos menos avisados, isso pode soar como peso insuportável. Na ocorrência, o termo “jugo” é um apelo para que as pessoas o tomem sobre si, e na segunda ele é retomado para dizer de sua suavidade. Diz o Mestre: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Enganam-se, pois, aqueles que pensam ser o cristianismo algo insuportável. Como Jesus falaria de descanso de alma se Sua proposta de vida fosse algo pesado e difícil? Quando Jesus assim se dirigiu à multidão, estava se contrapondo a todos os outros mestres de sua época, que impunham a seus discípulos uma conduta tão austera quanto impraticável, como a dos estóicos, filosofia seguida pela nobreza de Roma e até por imperadores, como Marco Aurélio. Entretanto, sem dúvida, Jesus estava atacando diretamente seus inimigos mais próximos, os religiosos legalistas da Judeia. O Mestre assim se refere a eles: “...dizem e não fazem. Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los.” (Mt 24.2-4). Não podemos deixar de dizer que, infelizmente, muitos pastores há, em nossa época, aos quais se aplicam essas palavras. Eles são os responsáveis pela opinião equivocada de muitas pessoas, a respeito do cristianismo, cuja proposta é libertadora, não escravizante; promotora da alegria e da felicidade, que jamais combinam com a tristeza e a opressão. O Cristianismo prega a verdadeira vida e a mais autêntica alegria no Reino de Deus. Algo eterno, não passageiro, nem enganoso.
Não foram poucos os que me disseram não serem crentes porque julgam muito difícil seguir o cristianismo, em virtude de suas proibições. Mas, que proibições? O Cristianismo é fundado na graça de Deus e não na lei. Atitudes como essa revelam não apenas um desconhecimento do que seja o ser cristão, como também demonstram o tipo errado de informação que receberam. Paulo diz aos gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou”(Gl 5.1). O Cristianismo não é uma religião inspirada no estoicismo. Não é um tipo de asceticismo. Aquilo que fazemos é produto de nossa espontaneidade, e o que deixamos de fazer é porque reconhecemos que é prejudicial ao ser humano. É próprio do ser inteligente, e até dos irracionais, o apego às coisas boas, e o se afastar das ruins, das que provocam dores, sofrimento. Mas, o “sim” e o “não” fazem parte da vida humana. Tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer, porque somos cristãos, é algo tão prazeroso quanto espontâneo, e o fazemos com toda a felicidade e alegria, sem qualquer imposição. Excluímos, porém, dessa vida prazerosa, qualquer prática que possa ser considerada maligna, ou que venha resultar em algum tipo de prejuízo para as pessoas e para nós mesmos. Isto não é desprazer e sim sabedoria, arte de viver e de conviver, amor ao próximo e a si mesmo, ensinos centrais do cristianismo.
Nesses dias, quando a nossa sociedade se prepara para o carnaval, onde a libertinagem é confundida com a liberdade, as pastorais de nossa Igreja voltam-se contra essa falsa alegria e o tipo de moralidade que lhe dá suporte. Porque é só verificarmos o resultado dessas festas para encontrarmos a fonte das tristezas, dos desenganos, das dores, das lágrimas; escravidão escondida sob as fantasias e as expressões cínicas dos foliões, tolas vítimas do pecado, donos dos fardos realmente pesados de serem carregados.
Sim, a vida com Deus é um jugo muito leve e fácil de carregar para aqueles que acreditam nos valores superiores ensinados por Jesus. Para isso é necessário ser vigilante, a fim de que o pecado não nos surpreenda. Estejamos atentos e não coloquemos os pés nas armadilhas que o inimigo tem armado para nos capturar.
Jesus veio para que tivéssemos vida abundante. Mas, somente a têm aqueles que persistem em seguir a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Estes, sim, são verdadeiramente felizes.