No passado, nossa juventude cantava: “Eu preciso de você; você precisa de mim e nós precisamos de Cristo até o fim, sem cessar…”. Música simples, verdade tremenda! Saber que precisamos um do outro, viver em sociedade pra sobreviver condignamente, talvez seja uma das boas coisas da vida. Passo a contar-lhes uma estória que é do conhecimento de alguns: Era uma vez uma carpintaria na qual estava acontecendo uma interessante reunião das ferramentas, para resolver umas dificuldades relacionais entre elas. O martelo exerceu a presidência, mas os participantes lhe notificaram que teria de renunciar, porque ele fazia demasiado barulho e, além do mais, passava todo o tempo golpeando. O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso da carpintaria o parafuso, pois gastava muito tempo dando muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque, o parafuso concordou, mas, por sua vez, pediu a expulsão também da lixa, por ser áspera no tratamento com os demais. A lixa acatou, com a condição de que se expulsasse a trena, que sempre media os outros segundo a sua medida, como se fora a única perfeita. Nesse momento, entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, a trena e o parafuso. Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino móvel. Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembleia reativou a discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse: ‘Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos, e concentremo-nos em nossos pontos fortes. Então, a assembleia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar asperezas e a trena era precisa e exata. Sentiram-se, assim, como uma equipe capaz de produzir móveis de qualidade. Muita alegria passaram a experimentar, pela oportunidade de trabalhar juntos na diversidade.
A riqueza das lições que podemos extrair dessa estória nos acorda para a essencialidade da vida coletiva, cantada, inclusive naquela canção.
Esse foi o espírito que reinou durante os três anos que antecederam o Pentecostes, quando Jesus escolheu seus discípulos para que, em comunidade, aprendessem sobre o que é amor, perdão e levar as cargas uns dos outros. Na Igreja Primitiva, “estavam todos unidos e tinham tudo em comum” (At 2.44). Ninguém é feliz sozinho. O sucesso ou insucesso de cada um de nós é, de alguma maneira, responsabilidade de todos.
A vaidade de acharmos que não necessitamos dos outros é sinal grave de enfermidade moral. Por mais competente que alguém seja, ele só consegue estar de pé porque há uma teia racional que lhe dá espaço e atenção, apontando para o conhecimento de seu valor.
Os grandes avanços e aceleração do progresso da sociedade humana só se deram a partir do aprendizado da riqueza da vida em comunidade, oportunidade em que, juntos, nos suprimos nas deficiências e fragilidades uns dos outros.
Para tanto, longe de nós, cada vez mais, o narcisismo, o orgulho e todo cheiro de personalismo. Eu preciso de você, você de mim e nós, de Cristo. Se não houver o outro, não haverá o que justifique a existência de quaisquer valores morais e éticos. Se algo somos é porque outros existem e nos conferem as condições para seguirmos adiante. Nós precisamos uns dos outros. Não fomos criados por Deus para a solidão, pseudo-autosuficiência e o isolamento. Precisamos dar e receber amor, carinho, cuidados, apoio. Só o cordão de três dobras não se parte.
Não desista da coletividade. Eu preciso de você, você precisa de mim e nós precisamos de Cristo. Seja isso sem cessar, até o fim. Assim, seremos pessoas mais felizes e com uma qualidade de vida ainda melhor.