Já havíamos servido, como membro do Conselho Geral da Aliança Batista Mundial, em dois mandatos – 1980 a 1985 e 1995 a 2000. Mas agora foi diferente. Estávamos lá na Holanda, juntamente com outros irmãos de mais de 50 países, celebrando os 400 anos do surgimento da 1a Igreja Batista no mundo, justamente em Amsterdan. A reunião do Conselho Geral teve início no dia 27, em Ede-Wageningen, cidade de 107 mil habitantes, situada a 62 km de Amsterdan. A ABM congrega 214 convenções batistas, de mais de uma dezena de diferentes linhas, representando aproximadamente 40 milhões de membros das igrejas batistas espalhadas por quase todo o mundo.
Os batistas são reconhecidos, especialmente aqui na Europa, pela grande contribuição dada, ao longo da história, à transformação dos povos, com base na assumida defesa da liberdade de consciência individual, da liberdade de culto, como também da separação Igreja/Estado. William Brackney, Diretor do Centro de Estudos Batistas e Anabatistas de Nova Escócia, Canadá, rememorou os últimos 400 anos de organização da Igreja Batista, aludindo ao batismo por imersão de João, o Batista, por quem Jesus Cristo foi batizado. Mencionou os pioneiros ingleses John Smyth e Thomas Helwys, fundadores da Igreja Batista na Holanda, em 1609, após sua fuga da Inglaterra, por causa de perseguições religiosas.
Durante as comemorações, conhecidos nomes batistas foram lembrados nos cultos especiais diários, principalmente os dos missionários Adoniram Judson, na Birmânia (preso ali por causa do Evangelho, por quase dois anos), e William Carey, na Índia. Contudo, foi repetido, os batistas precisam dar continuidade à sua influência entre os povos, e fazer muito mais hoje no combate, por exemplo, ao flagelo atual do tráfico de seres humanos, quando cerca de 12 milhões de pessoas vindas do leste europeu e da América do Sul, principalmente, são vítimas do tráfico sexual, além do trabalho forçado. Em outro momento, David Coffey, atual Presidente da ABM, disse: "Há privilégios aos quais temos de renunciar. Jesus renunciou aos privilégios de ser Deus, para que seus seguidores aprendessem com Ele a renunciar também, em benefício dos outros". Falou mais: "As mãos que encheram de água os oceanos vieram a ser as mãos que serviram no Cenáculo, lavando os pés dos discípulos. As mãos que lançaram as estrelas no espaço, tornaram-se as mãos de um carpinteiro".
O programa do dia 28 arrebatou o auditório: A ênfase do culto foi dada à dívida que os batistas têm para com grandes pregadores, ao longo dos últimos 400 anos. Muitos poderiam ser destacados. Certamente o tempo não permitiria. Quatro então, dentre eles, foram escolhidos, e parte de um sermão de cada um foi lida por representantes de suas nacionalidades, ao mesmo tempo em que a foto daqueles pregadores era projetada no telão. Sob silêncio reverente e forte emoção, foi lido parte de um sermão que Charles Spurgeon pregou na Inglaterra, em 1872; depois, um sermão que George Truett pregou nos Estados Unidos, em 1917; em seguida, um sermão pregado por William Tolbert, na Libéria, em 1970 e, finalmente Donaldo Guedes, representante dos batistas brasileiros no Conselho da ABM, leu um trecho do sermão proferido pelo Pr. Rubens Lopes, no Brasil, em 1973. O auditório cantou e orou agradecendo a Deus o legado desses príncipes do púlpito batista.
No dia seguinte, realizou-se outro culto de gratidão pelos pioneiros, sobre os quais escreverei proximamente. Nossa história honra nossa obra de hoje, e é alicerce para os sonhos do amanhã. Temos memória, glórias a Deus!